#empoderar9: Significado dos turbantes e mais umas verdades sobre apropriação cultural!

Oi, tudo bem com você? Espero que sim!

Ontem eu assisti a uma palestra maravilhosa e transformadora sobre feminismo negro, produzida pelo Desabafo Social, o Escambo de Ideias #3. Na discussão falou-se sobre estratégias de luta contra o sexismo e o racismo. Uma das palestrantes era a Joice Berth, arquiteta e militante do movimento negro, e no meio da conversa ela estabeleceu a diferença entre fortalecimento e empoderamento. Segundo ela fortalecimento está ligado à estética, a abraçar suas raízes, como por exemplo, abandonar os alisamentos e usar os cabelos crespos e cacheados naturalmente. Já empoderamento é ter conhecimento sobre sua ancestralidade e da estrutura do sistema racista e através desse saber, construir defesas contra as opressões que lhe acometem. Se você não conferiu ontem, confira neste link aqui. Vale muito à pena!

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“Nem sempre quem está fortalecido está empoderado.” Com isso em mente, hoje então é dia de entender o significado dos turbantes para a cultura afro-brasileira. Além disso, vim discutir mais uma vez apropriação cultural, porque enquanto fazia as pesquisas para esse post, lendo outros textos, muitos comentários referentes a eles eram justificativas esfarrapadas sobre utilização de materiais de outros povos e culturas. E não, não podemos viver cheios de disse-me-disse!

Leia aqui os textos no blog sobre “Transição Capilar”!

Sobre turbantes!

Os turbantes são elementos que caminham por vários povos, de norte a sul, de leste a oeste. Persas, árabes, indianos e africanos são alguns deles. Também conhecido como Ojá na África Negra, sendo utilizado em instrumentos musicais, roupas e até mesmo para as mães carregarem suas crianças, ele desempenha papéis de classificação social, religião e vestuário. 

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Imagem: Reprodução.

Aqui no Brasil, influenciado pela cultura africana, o turbante é uma das inúmeras peças que compõem as baianas, figura típica do nosso país que remetem às mucamas na época da escravidão, mas que também participam das religiões afro-brasileiras, como o candomblé. E por falar nas religiões nascidas aqui, a umbanda e o xangô também incorporaram o turbante.

Com o crescimento do movimento negro na década de 60 nos Estados Unidos, os turbantes, assim como outros elementos da cultura africana, foram colocados como símbolo de resistência à segregação racial que o país enfrentava. Hoje, um movimento que lá clama pela mesma ideia é o Afropunk, que envolve música, transgressão e identidade. 

Conheça o movimento AfroPunk neste post do blog!

Aqui no Brasil, o movimento negro também trouxe esse ideal de identificação com o continente africano por meio da estética. No presente, a internet tem sido um grande divulgador desses elementos, tendo a aceitação do cabelo como maior ponto de partida e os turbantes como ato de afirmação identitária.

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Alguns trajes maravilhosos do no festival de música do AfroPunk.

Entretanto, assim como aconteceu na década de 20 e 30, com estilistas como Paul Poiret e Coco Chanel, a indústria de moda atual encontrou nos turbantes uma fonte de consumo e através de sua produção em massa, os significados, sobretudo os de influência africana, estão sendo distorcidos, causando o que conhecemos como Apropriação Cultural.

Fontes: Soul Negra, Blogueiras Negras, História Hoje.

Para entender mais ainda sobre Apropriação Cultural, lhe convido a ler o primeiro post sobre isso no blog: #empoderar1: Baile da Vogue 2016, Kylie Jenner, Amandla Stenberg e Apropriação Cultural.

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Ilustração de Stephanie Mah.

Sobre os comentários!

Primeiro de tudo eu não sou ninguém para validar ou não o pensamento alheio. Cada um coleciona experiências distintas na sociedade. Mas de uma coisa eu sei: se quisermos entrar num debate sério precisamos de bons argumentos ao invés de uma coleção de desculpas.

Estava eu lendo “6 Reflexões Que Toda Mulher Branca Deve Fazer Sobre O Uso Do Turbante“, da Karoline Gomes no Modefica. Com esse título ela chamou a atenção e enfureceu muita gente, que resolveu comentar depois.

Um dos comentários falava que era uma “blasfêmia” esse papo de apropriação cultural no Brasil, já que como nação somos produto de diferentes povos e culturas.  Isso é a mesma coisa que diziam no final do século 19 aqui no país, quando em meio a teorias cientificistas racistas apareceu o Gilberto Freyre com a ideia da democracia social, algo muito lindo na fala, mas cheio de inverdades na prática. Para entender melhor do que falo, convido você a ler o #empoderar7: Entendendo a política de branqueamento no Brasil.

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A obra “Redenção de Cam” do pintor espanhol Modesto Broco representa a esperança depositada na vinda dos imigrantes: eles seriam responsáveis pela “salvação” do nosso país e o caminho para o desenvolvimento. Entenda mais sobre a pintura aqui: Tese do Branquamento | Mundo Educação. Imagem: Reprodução.

Continuando, a mesma ideia de democracia racial nos remete ao colorismo – a discriminação baseada na cor da pele. Numa sociedade racista como a que temos no Brasil, em que o preconceito é velado e prevalece o colorismo, usar um turbante enquanto se é lida como branca é bastante diferente de usá-lo e ser preta.

Leia sobre colorismo no post parceiro do Escrevendo Só!

Tudo bem que o colorismo coloca em pessoas de pele clara, lidas socialmente como brancas, mas que prezam e conhecem a cultura afro-brasileira, obstáculos ao se identificarem com essa cultura e, consequentemente ao usarem turbantes. Mas é como a Joice falou ontem na palestra sobre feminismo negro: Nem sempre quem está fortalecido está empoderado.

Precisamos estar atentos que exatamente por conta do colorismo, ser branco, entendido ou não sobre a cultura africana, e utilizar um turbante perpassa por uma série de privilégios impregnados na sociedade racista.

Um outro comentário era sobre pessoas negras utilizarem símbolos de outra cultura. Para essa pessoa era muita hipocrisia discutir apropriação cultural apenas quando lhe é conveniente. Isso é mais do que a verdade!

Assim como bem colocado em “Sobre Turbantes, Africanismo e Apropriação”, de Leopoldo Duarte na Revista Fórum, não é porque debatemos sobre apropriação cultural  em nossas vidas que estamos liberados, como pessoas negras e conhecedoras do assunto, para usar qualquer símbolo de qualquer cultura.

Se você do lado daí realmente entendeu o que é apropriação cultural sendo uma pessoa negra, sabe muito bem que ainda vivenciando esse problema somos passíveis sim de desrespeito, de tirar o significado e de sermos glamourizados enquanto nos utilizamos de um símbolo de um outro povo.

Entretanto, ser negro nesse contexto ainda não é a mesma coisa que ser branco. Por ser visto como o padrão, o default, o plano de fundo, a opressão estabelecida por uma pessoa branca aí será ainda maior.

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Refletindo sobre isso, discutir apropriação é muito maior do que a questão “usar ou não usar o turbante?”. É sobre entender sua posição no mundo e a partir disso pensar e repensar seus privilégios. Já está mais do que na hora de fazê-lo!

E aí, qual a sua opinião? Deixe ela nos comentários! Também compartilhe o texto e acompanhe o blog pelas redes sociais! Um abraço e até mais! 😉

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