A vez que eu cruzei o oceano eu quase não acreditei. Lembrei, logo após de receber a notícia da viagem, de quando mais nova meu pai me contava ao irmos à praia. “Se formos direto com o horizonte chegaremos na África”. “Como assim?”, eu me perguntava. Como atravessar o mar e voltar para…casa?
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Parti para os preparativos. Que roupa usar? Será que vai nevar? E o céu, como é? As pessoas, como são? Qual a verdadeira história? Segundo a meteorologia da internet, abril é um mês bastante frio na África do Sul. Torci para ver neve, mas não vi. Sei que nas pessoas que vi me percebi, muito mais do que eu esperava ou já experimentara. Só de eu ir lá para uma competição científica já quebrava toda a narrativa de privações daquela terra -obrigada, Chimamanda, por me abrir os olhos.
A vez que eu cruzei o oceano fiz questão de trançar meus cabelos na tentativa de me enturmar. Fiquei tão contente quando me confundiram como nativa.
A vez que eu cruzei o oceano vi zebras, girafas, elefantes, javalis, búfalos e rinocerontes, todos de fronte a minha existência, diminuta existência. Fiquei maravilhada com o céu que parecia querer se aproximar do resto do planeta numa curva. Soube que o mundo é maior do que imaginava, mas menor do que qualquer viagem.
A vez que cruzei o oceano aprendi um pouco sobre aqueles que lutaram para construir um caminho novo, uns juntos aos outros. Conheci israelenses, chineses, alemães e australianos. Do Chipre, holandeses, libaneses, catalães, espanhóis e indianos. Mas também vi os que sempre lá viveram, agora debaixo de uma bandeira, entrelaçados nas suas diferenças.
A vez que cruzei o oceano fui voando, absorvi tudo que pude e em alguns momentos não quis voltar para o lado de cá. Quase nem acreditei, porque aonde me perdi me encontrei.
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